Memorial da Leitora


Todos nós temos uma impressão sobre nossa pessoa. A nossa maneira como nos vemos, como nos formamos, as diversas aquisições de leituras de mundo, são fatores determinantes ns relacionamentos, na vida profissional... e na forma de encarmos a vida.
Voltar ao passado, iajar, recordar certos momentos é muito interessante. As imagens que flutuam nos situam no momento ideal para refletirmos o que somos verdadeiramente hoje.
Avaliamos as marcas deixadas por diversas pessoas, as aprendizagens significativas, as leituras de mundo armazenadas, vivenciadas e registradas na memória.
Lembro que bem antes de entrar na escola, havia uma grande preocupação de meus pais, embora leigos pedagogicamente, o de preparar uma bagagem de conhecimentos. Recordo que preenchia muitas folhas de embrulho de pão, dominava as tarefas com um lápis de carpinteiro do meu avô, apagava os erros com a borracha de conta-gotas. Conheci o alfabeto, números, palavras, cálculos...
Meu primeiro dia de aula foi cheio de insegurança, medo, incertezas... Venci, cresci, a passagem pela escola foi gratificante.
Lembro das primeiras leituras "Travessuras de Pirulim", que na cartilha tinha um bichano chamado Mimi, que o "Ivo vê a uva" e a Eva também. Que a primeira letra da cartilha era o v, para mim muito significativa, inicial do meu nome.
A escola foi sempre um espaço de surpresas, alegrias, de conhecimentos...recordo quando pintava mapas, cantava no coral, das feiras de Ciências, das aulas nos sábados à tarde, onde a professora de Língua Portuguesa trabalhava com teatro, musica, recital de poesias, leitura de livros...
Ainda na infancia tinha o costume de ir a missa, participar das rezas, leitura dos cantos, de receber os "santinhos" e após em casa, ligar o rádio e ouvir as histórias infantis. Durante a semaa após o almoço, ouvia as novelas pelo rádio, era uma expectativa a cada capítulo. Criava-se asas a sua imaginação.
Na adolescencia foram tanta as leituras: "Polyana", "O menino do dedo verde", as revistas com fotonovela, os gibis, as revistas "Capricho", e por aí se vão tantos outros.
Na faculdade com dezessete anos, chegou o momento do amadurecimento, do aprofundamento teórico, mais dedicação e responsabilidade pois iniciou-se a vida profissional também. Sim, tornei-me professora leiga, pois na localidade bastava ter um pouco de escolaridade e vontade eram suficientes naquele momento.
Iniciei minha vida profissional como professora alfabetizadora, chorei muito, as dificuldades eram tantas, me faltava a pedagogia. Pensei em desistir, mas as dificuldades financeiras que barravam, manter os estudos na faculdade particular não me deixaram fugir dos desafios.
Professoras, antigas colegas me auxiliaram, tornei-me um autodidata. Gostei, amei a profissão.
Como a faculdade era de Língua Portuguesa vivia na biblioteca, pesquisava muito. Fui convidada e comecei no período de férias a trabalhar na biblioteca da faculdade. Aprendi muito, ampliei os horizontes de leitura e escrita.
Criou-se o hábito de ler, ler de tudo, desde a bula do remédio, o de pesquisar o que não se entende, buscar as soluções, sanar as dúvidas. E assim foi o processo da aquisição da leitura de mundo, de vida, de sociabilização e relacionamento com os outros.
Hoje, penso, que a criatividade e a motivação para enfrentar os desafios são fundamentais para o crescimento.
Meu maior desafio é ser uma leitora da internet, confesso que o avanço tecnológico foi muito rápido. É preciso vencer o tempo perdido, ir além.
"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar a gora e fazer um novo fim."
Chico Xavier